Garapa - Bebida feita com uma mistura de água e açúcar |
José Padilha, o diretor do documentário, acompanha a vida
de três famílias do Nordeste brasileiro e evidencia aquilo que estamos
acostumados a ver apenas em estatísticas: a fome. Essas famílias vivem em
situações bastante precárias, muitas vezes dividindo o espaço com moscas.
O objetivo central, de acordo com o diretor, é mostrar a fome através
dos olhos daqueles que vivem essa realidade. O foco pode ser a fome, mas o
documentário levanta uma série de outras questões de extrema relevância para o
entendimento desse cenário: baixa escolaridade, baixíssimo acesso a informação,
carência extrema de recursos básicos como saúde e alimentação. O planejamento
familiar também é inexistente. Vemos uma mãe com onze filhos e o casal mostrava não
possuir qualquer controle ou entendimento acerca de métodos contraceptivos.
Lúcia e suas três filhas - Fortaleza |
Uma vez que se constata a situação degradante a qual estão relegadas,
torna-se perfeitamente compreensível que as perspectivas dessas famílias sejam
praticamente inexistentes. São pessoas que estão estagnadas e que claramente
necessitam de apoio.
Padilha, em uma entrevista, diz que a escolha das famílias que seriam filmadas foi aleatória.
Ele foi até os locais onde os pais pediam comida, aproximou-se e simplesmente
perguntou "Posso filmar?".
Ainda nessa
entrevista linkada acima (que infelizmente está sem legenda), Padilha fala
sobre o desconforto psicológico de estar presente na vida dessas pessoas que
passam fome e lutam contra ela e, no entanto, todo dia tomar seu café da manhã,
almoçar e jantar. Em certo momento do documentário, um dos filmados diz que
nunca em sua vida fez as três refeições básicas do dia. Um homem com 28 anos de
idade.
Outro fato chocante é
que muitas pessoas no Brasil não possuem documentação que as identifiquem e, em
decorrência disso, ficam excluídas de programas do governo como o Fome Zero, que entrega 50 reais para
cada família cadastrada.
Então quero concluir recomendando essa bela (e
triste) obra a todos. Por mais que nos sintamos impotentes diante de tanto
sofrimento, ao menos não ficamos completamente alienados.
Vejam também uma análise interessante feita por
Isabela Boscov.
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