quarta-feira, 29 de junho de 2016

Greves - A Manipulação da Mídia


Texto por Camila Martins

Fato: a Globo passa longe de ser uma fonte confiável de informação. 
Fato: é inegável que a Globo sabe construir discursos argumentativos convincentes. E podemos aprender muito com eles. 

Vamos tomar por exemplo as reportagens sobre educação exibidas na edição de 28/06/2016 no Bom Dia Brasil (que eu vejo como uma tentativa de diminuir os movimentos estudantis, ou ao menos de diminuir a simpatia/aprovação da opinião pública em relação a eles). A primeira, relata a desvalorização financeira da profissão de professor. A segunda, um relato sobre as greves nas mais importantes universidades públicas do país. Vejamos como isso é feito:

REPORTAGEM 1
Tese: há um problema na educação de base no Brasil que começa com a desvalorização do professor (figura base desse processo).
Argumentos: pesquisas que mostram a baixa remuneração do professor em relação aos outros profissionais de formação superior + as péssimas condições de trabalho em sala de aula

Tese: a situação atual da educação não é tão desesperadora. Podemos nos manter esperançosos uma vez que, apesar de tudo, ainda temos bons professores.
Argumento: relatos pessoais - apelo ao sentimental - de professores que amam sua profissão e seguem um ideal, e que colocam esse ideal acima das suas necessidades e deveres como indivíduo fora da sala de aula.

REPORTAGEM 2
Tese: o ensino superior público está passando por um período conturbado.
Argumento: denúncia de alunos, professores e funcionários sobre a precariedade na infraestrutura e manutenção nos campus das principais universidades públicas do país + denúncia de atraso no calendário escolar por falta de professores

Tese: uma situação que já não está boa é piorada com as greves (e outras atitudes) dos próprios estudantes.
Argumentos: denúncias de alunos e professores impedidos de ter aula pelos grevistas, que tomam atitudes bárbaras + denúncias de como a greve estudantil atrapalha ainda mais que as péssimas condições estruturais + opinião de especialista sobre a inexistência de uma literatura e uma legislação sobre greve de estudantes + opiniões sobre como a greve, apesar de ser um instrumento incomodo, tem uma causa válida (só para dar um toque de imparcialidade)

Conclusão: o Brasil vive um problema sério no ensino, que vai do basico ao superior, mas as greves, ao invés de ajudar, estão piorando a situação ao atrasar o calendário. Os alunos estão prejudicando a si mesmos com essas atitudes.


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Estou longe de concordar com a conclusão, mas não posso virar as costas ao fato que esse tipo de argumentação tem seu mérito e é muito inteligente (ou eu não veria comentários que depreciam os movimentos universitários).

Mas onde eu realmente quero chegar ao dizer tudo isso? Na facilidade e naturalidade com as quais aceitamos a demonização dos movimentos grevistas.
Eu não gosto de greve. Greve atrapalha. Greve irrita. Greve transtorna. Apesar disso eu aceito a greve como uma forma de protesto justa (para dizer o mínimo). Isso porque entendo que estamos em uma sociedade cujo lema é "ema, ema, ema, cada um com suas dificuldades"; uma sociedade em que o problema do outro não é relevante. A greve, ao incomodar, transforma o problema de um no problema de todos (devia ser algo óbvio, mas não é). A greve é necessária, enfim, por ser um instrumento de criação de empatia. 

Talvez eu esteja sendo romântica na minha posição sobre a greve e/ou esteja sendo exagerada na minha interpretação sobre uma simples reportagem. Ainda assim, acho válido toda a tentativa de se observar uma situação em uma de suas camadas menos explícitas.
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