“Não é o bastante ver
que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas
nele?”
Richard Dawkins é um intelectual britânico e ferrenho defensor do ateísmo. Nasceu em Nairóbi, cresceu na Inglaterra e formou-se e lecionou na Universidade de Oxford. Já publicou outros livros célebres como O Gene Egoísta, O Relojoeiro Cego, A Escalada do Monte Improvável e vários outros.
A frase que abre este post foi retirada do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e também está no livro de
Dawkins, como homenagem a Douglas Adams.
Deus,
um delírio (The God Delusion) foi escrito com o objetivo de
contestar princípios religiosos e instigar um senso crítico naqueles que creem
no criacionismo. Ou seja, é um livro assumidamente pró-ateísmo e, também, com
um posicionamento bastante firme contra as religiões, acusando as mesmas de
serem prejudiciais para a humanidade.
Um dos méritos do livro está na linguagem extremamente simples e na sua
didática que aborda ponto-a-ponto os princípios das religiões, refutando ou apontando
falhas. Outro ponto interessante está na atenção que é dada a desmistificação
de ateísmo, que ainda hoje é tido como negativo e ligado ao satanismo. Então o
autor fala bastante sobre o preconceito que os ateus sofrem e apresenta dados que
confirmam isso.
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Trecho do livro (Clique na imagem para aumentar) |
Faz bastante sentido, por exemplo, a analogia que é feita entre o
ateísmo e a homossexualidade, não que haja alguma relação direta entre as duas
coisas (não há), mas muitos ateus escondem suas posições ideológicas e ausência
de crenças religiosas. Muitos fazem isso por medo de possíveis represálias e de
não serem aceitos pela família ou amigos. Portanto, um termo que o autor usa mais
de uma vez é o “sair do armário”, referindo-se a esses ateus que têm medo de se
assumirem como tais.
Para Dawkins, um dos grandes problemas dos ateus está na sua falta de
organização. Ele até ressalta que existem mais ateus do que alguns grupos
específicos de religiosos, como o dos judeus, mas ao contrário destes, os ateus
se comportam de forma muito independente, sem formar uma massa capaz de falar
por si própria e se defender.
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Trecho do livro (Clique na imagem para aumentar) |
Agora o que realmente gera polêmica no livro é a posição adotada pelo
autor, que encara toda e qualquer religião como sendo um câncer para a
sociedade. É traçado um paralelo entre conservadorismo, pensamentos
retrógrados, fanatismo, violência, preconceito, discriminação etc. e a
religião. Pretende com essa postura abrir os olhos dos que acreditam e seguem
uma religião por pura inércia. Daqueles que foram criados numa religião X e
nunca pararam para questionar.
De uma forma ou de outra, sendo religioso ou não, Deus, um delírio é um livro que vale a
pena ser lido. Mesmo que o leitor discorde do que é dito. A capacidade de
debater assuntos diversos e tolerar pensamentos divergentes sempre foi muito negligenciada.
Abrir a mente para novos horizontes pode ser algo positivo, nem que seja apenas
para aumentar o próprio arcabouço teórico.