terça-feira, 16 de outubro de 2012

Deus, um delírio – Richard Dawkins

“Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?”

Richard Dawkins é um intelectual britânico e ferrenho defensor do ateísmo. Nasceu em Nairóbi, cresceu na Inglaterra e formou-se e lecionou na Universidade de Oxford. Já publicou outros livros célebres como O Gene Egoísta, O Relojoeiro Cego, A Escalada do Monte Improvável e vários outros. 

A frase que abre este post foi retirada do livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias” e também está no livro de Dawkins, como homenagem a Douglas Adams.

Deus, um delírio (The God Delusion) foi escrito com o objetivo de contestar princípios religiosos e instigar um senso crítico naqueles que creem no criacionismo. Ou seja, é um livro assumidamente pró-ateísmo e, também, com um posicionamento bastante firme contra as religiões, acusando as mesmas de serem prejudiciais para a humanidade.

Um dos méritos do livro está na linguagem extremamente simples e na sua didática que aborda ponto-a-ponto os princípios das religiões, refutando ou apontando falhas. Outro ponto interessante está na atenção que é dada a desmistificação de ateísmo, que ainda hoje é tido como negativo e ligado ao satanismo. Então o autor fala bastante sobre o preconceito que os ateus sofrem e apresenta dados que confirmam isso.

Trecho do livro (Clique na imagem para aumentar)
Faz bastante sentido, por exemplo, a analogia que é feita entre o ateísmo e a homossexualidade, não que haja alguma relação direta entre as duas coisas (não há), mas muitos ateus escondem suas posições ideológicas e ausência de crenças religiosas. Muitos fazem isso por medo de possíveis represálias e de não serem aceitos pela família ou amigos. Portanto, um termo que o autor usa mais de uma vez é o “sair do armário”, referindo-se a esses ateus que têm medo de se assumirem como tais.

Para Dawkins, um dos grandes problemas dos ateus está na sua falta de organização. Ele até ressalta que existem mais ateus do que alguns grupos específicos de religiosos, como o dos judeus, mas ao contrário destes, os ateus se comportam de forma muito independente, sem formar uma massa capaz de falar por si própria e se defender.

Trecho do livro (Clique na imagem para aumentar)
Agora o que realmente gera polêmica no livro é a posição adotada pelo autor, que encara toda e qualquer religião como sendo um câncer para a sociedade. É traçado um paralelo entre conservadorismo, pensamentos retrógrados, fanatismo, violência, preconceito, discriminação etc. e a religião. Pretende com essa postura abrir os olhos dos que acreditam e seguem uma religião por pura inércia. Daqueles que foram criados numa religião X e nunca pararam para questionar.

De uma forma ou de outra, sendo religioso ou não, Deus, um delírio é um livro que vale a pena ser lido. Mesmo que o leitor discorde do que é dito. A capacidade de debater assuntos diversos e tolerar pensamentos divergentes sempre foi muito negligenciada. Abrir a mente para novos horizontes pode ser algo positivo, nem que seja apenas para aumentar o próprio arcabouço teórico.

4 comentários:

  1. pelo pouco que li no teu resumo parece que ele pretende fazer uma organização de ateus, ou melhor uma religião ateísta, massa de pessoas que acreditam na mesma coisa "não-crença em deus" e que se orientam para esse fim. Hoje, a religião é definida por um conjunto de pessoas que acreditam num ser sobrenatural, mas se analisarmos bem, vamos notar que não é preciso um ser sobrenatural para as pessoas criarem religiosidade e todos os males daí provenientes; da mesma forma que as pessoas ateias são atacadas nos meios comuns, as pessoas religiosas também sofrem preconceitos nos meios científicos, de tal maneira que organizar um massa de ateu não vai ser senão substituir um mal pelo outro, ou seja, se fossemos a maioria e mandássemos, também começaríamos com a censura. Não estou a dizer que não devemos fazer para serem melhoradas as nossas posições independentemente da nossa crença, longe disso.

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    1. Ele dedica uma parte do livro para falar sobre a diferença entre grupos religiosos e não religiosos. Concordo com você que alguns religiosos sofrem preconceito, mas a proporção é bastante diferente. Assim como alguns brancos também sofrem preconceito. Mas também tenho minhas ressalvas, principalmente com esse tom exagerado que ele adota contra todas as religiões e cultos. Talvez em algum nível a religião seja benéfica, nem que seja apenas para a diversidade cultural, por mais que essa diversidade não seja respeitada pela maioria dos integrantes das suas respectivas religiões.

      Por outro lado, acho interessante que os ateus se afirmem, "saíam do armário" e esclareçam a sociedade sobre o que é o ateísmo, explicando que não há maldade, satanismo ou qualquer coisa do tipo relacionada. E, principalmente, explicando que a moral não tem origem na crença em deus e que uma pessoa é boa ou ruim independente disso.

      Com essa posição que ele adota, se lhe fosse dado o poder, suspeito que ele baniria a religião da face da Terra ou então proibiria as pessoas de a professarem, vai saber... E eu acharia isso horrível.

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  2. Confesso que não li O Delírio de Dawkins, basicamente porque não quis gastar várias dezenas de suados reais para ter um livro cuja leitura não me daria prazer, mas li alguns trechos dele, além de textos de Dawkins espalhados pela internet, e fiquei triste de ver suas atuais atitudes, que eu realmente não esperava de um intelectual que um dia já admirei. Resumindo bem, acho muito estranho que, ao defender a razão, Dawkins se torne frequentemente tão irracional, além de eu considerar indignas de um cientista as táticas de argumentação que ele muitas vezes usa, em especial a de mostrar a exceção como se fosse regra. Por exemplo, ao falar dos conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda, ele finge acreditar que todos os católicos querem matar os protestantes, ou vice-versa, e usa essa falsa premissa como argumento para defender que, enquanto existir religião, não existirá paz no mundo. Uma opinião, a meu ver, muito ingênua, pois, se as religiões fossem extintas amanhã, as pessoas simplesmente achariam outros motivos para se digladiarem. É triste, mas é real. Em meu blog comentei um pequeno livro no qual um cientista cristão chamado Alister McGrath (professor em Oxford, como Dawkins) replica a algumas das ideias dele - caso se interesse, está nos arquivos, em julho de 2009. Grande abraço!

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    1. Opa, já achei o post lá no seu blog. Com certeza lerei!

      Eu gosto do Dawkins e ainda pretendo ler outros livros dele, mas realmente incomoda algumas posturas que ele adota. Algumas eu considero compreensíveis, já outras nem tanto.

      Sei que ocorreram algumas polêmicas recentes ligadas a ele, mas não acompanhei nada e não sei se ele falou alguma nova besteira muito grande. Alguns meses atrás ele publicou uma nota de esclarecimento tentando explicar melhor uma coisa que ele disse anteriormente e que gerou alguma indignação. Na época eu li e lembro que não fiquei muito convencido, mas não me recordo do que se tratava kkk

      Ler Dawkins também exige um pouco de crítica pra saber filtrar algumas coisas e refletir mais profundamente outras. Por um lado isso é até bom.

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