O livro Mentes Perigosas, da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, parece ser um artigo que foi simplificado e maquiado para que o grande público pudesse lê-lo.
Embora seja bastante interessante, parece ter sido escrito às pressas.
E sempre que a autora se distancia da sua área de trabalho e discorre sobre outros campos profissionais, ela comete erros, achismos e até generalizações, como a que coloco no trecho abaixo:
Embora seja bastante interessante, parece ter sido escrito às pressas.
E sempre que a autora se distancia da sua área de trabalho e discorre sobre outros campos profissionais, ela comete erros, achismos e até generalizações, como a que coloco no trecho abaixo:
“A segunda questão aponta para a presença da psicopatia em todos os tipos de sociedades, desde as mais primitivas até as mais modernas.”
Para leigos, nada de anormal na frase, mas qualquer sociólogo ou antropólogo moderno condenaria a frase devido ao uso etnocêntrico do termo “sociedades primitivas”. Mas Okay, ela é uma psiquiatra e não antropóloga, então não podemos exigir tanto assim... Mas isso revela como o livro foi feito às pressas, sem uma equipe de revisão com tempo suficiente para analisar.
Durante todo o livro a autora se refere aos psicopatas como sendo “criaturas”.
Por mais que os psicopatas sejam de fato pessoas desprovidas de sentimentos altruístas, desprovidas de empatia ou sentimentos nobres, isso não muda o fato de que eles são assim (como a própria autora diz) devido a uma singularidade/alteração cerebral que ainda não possui cura nem tratamento eficaz. Ela diz que a psicopatia não é uma doença, mas sim uma forma de ser (mesmo que seja causada por questões fisiológicas/cerebrais) e em momento algum isso fica muito claro.
Outro ponto é que em certos momentos surge a sensação de estar lendo um autoajuda. A autora dando aulas de como se proteger dessas criaturas "malévolas". Isso não chega a comprometer o livro, pois as informações que são passadas são bastante interessantes e às vezes até perturbadoras.
É uma leitura bastante rápida e parece também que foram acrescentadas coisas desnecessárias (como diversas informações repetidas, por exemplo) para dar mais volume ao livro.
É uma leitura bastante rápida e parece também que foram acrescentadas coisas desnecessárias (como diversas informações repetidas, por exemplo) para dar mais volume ao livro.
Série com protagonista psicopata |
Em alguns momentos ela fala de “cultura psicopática” e critica a mídia, o cinema e o fato de os vilões terem se tornado personagens centrais (e para os quais torcemos) em muitos romances (livros), filmes etc.
Mas todo esse discurso soa batido e conservador. É uma questão de qualidade e de variação. Se hoje muitos vilões possuem papel central, isso é reflexo de um cinema tradicional que por muito tempo explorou apenas um lado da história. Criticar isso é o mesmo que dizer que games violentos fazem com que garotos saiam matando por aí.
Trecho:
Mas todo esse discurso soa batido e conservador. É uma questão de qualidade e de variação. Se hoje muitos vilões possuem papel central, isso é reflexo de um cinema tradicional que por muito tempo explorou apenas um lado da história. Criticar isso é o mesmo que dizer que games violentos fazem com que garotos saiam matando por aí.
Trecho:
“Os heróis dos novos tempos são maldosos, inescrupulosos e isentos de qualquer sentimento de culpa. Já os personagens bonzinhos despertam em nós um sentimento de pena e até certa intolerância com seus discursos utópicos e ingênuos. Os heróis do passado estão se tornando os otários dos tempos modernos.”
Uma coisa engraçada é que ao traçar o perfil do psicopata, ela coloca praticamente todos sob suspeita. Ao chegar ao final do livro, estamos totalmente paranóicos, desconfiando dos parentes, amigos etc.
Numa entrevista a um programa de TV, ela diz:
“Cuidado com bajuladores, com pessoas que te elogiam demais, pessoas que sempre dizem as frases certas, sempre te impressionam bem demais... Todo mundo fala bem daquela pessoa, ela tem sempre uma palavra certa pra te dizer...”
Ou seja... Desconfie, desconfie e desconfie...
Mas faz bastante sentido o que ela diz. É o tal ditado popular:
“Quando a esmola é demais, o santo desconfia”.
Nada é perfeito, então duvide quando assim parecer.
Mas faz bastante sentido o que ela diz. É o tal ditado popular:
“Quando a esmola é demais, o santo desconfia”.
Nada é perfeito, então duvide quando assim parecer.
Mentes Perigosas - O Psicopata mora ao lado |
lol, a ideia central para vender hoje é essa, ou criticas forte a religião, ou arranjas uma teoria de conspiração, ou atrás da ciência escreve livros de auto-ajuda, ou ponha todos contra todos, e apresentando uma pseudo-solução, a fórmula parece extensa, mas é bastante limitada e funciona à base disto: "sê número um, mas para sê-lo tens de ir ao cu aos outros, e se fores toma cuidado com o rabo porque virão atrás do teu.
ResponderExcluirPorém, não entendi porque disseste que a combinação "sociedade primitiva" revala etnocentricidade. Que eu saiba sociedade é um grupo de pessoas que obedecem a determinados princípios, ainda não estou a ver nada de etnocéntrico nisso.
E, quanto aos vídeojogos e filmes violentos, não digo que façam mais pessoas violentas, nem digo que não fazem, o que posso dizer é que no meu país a violência e a criminalidade aumentou consideravelmente desde que a televisão e os filmes popularizaram-se por lá, levou o seu tempo a aumentar, mas aumentou e hoje já nada o pára. Dos nomes que o chefes ou membros de gangs usam, Ramon Cota (do filme delta force 2, como ali é conhecido Billy Drago, que só faz papel do mau), ou seja só usam nome dos maus do cinema. E depois com a Tupakização e Fiftycentização, o cool passou a ser a marginalidade. É claro que houve outros aspectos que ajudaram a florescer essa cultura insana, mas definitivamente não é a distribuição de renda, como acontece nos países mais desenvolvidos, porque virtualmente na Guiné somos todos pobres, e ali, pela nossa cultura de partilha, ninguém que tenha vizinho morre de fome ou dorme na rua.
No entanto, de uma coisa que eu tenho a certeza absoluta é que os videojogos violentos e os filmes reduzem a nossa sensibilidade à violência, porque ficamos acostumados à imagem. A sociedade actual, meu amigo, está bem distorcida, tão distorcida que ser mau parece, lamentavelmente, ser cool; mas ao contrário da autora do livro, eu acho que identificamos com os maus do filme, porque eles são humanizados, atribuem-lhe uma causa "nobre" e são-nos dados a conhecer, por acaso voltei a referir a esse ponto neste artigo: deixa-me entrar
Não posso dizer com certeza a intenção que a autora tinha ao usar o termo "primitivo". Talvez ela quisesse se referir às sociedades mais antigas, mas ficou um pouco ambíguo.
ResponderExcluirO outro sentido seria o hierárquico, que se trata do "grau de evolução".
O simples fato de olhar uma sociedade e considerá-la primitiva, do ponto de vista do desenvolvimento, já se caracteriza uma visão etnocêntrica, por presumir que a cultura do observador é melhor e, portanto, um exemplo a ser seguido.
Veja os ocidentais por exemplo:
"Vamos levar o desenvolvimento para África! O Fardo do homem branco!"
"Vamos catequisar os índios da América!"
"Vamos levar a democracia para o mundo muçulmano!"
Mas suspeito que você entenda mais do assunto do que eu. Vi no seu Blog que você escreveu um livro que retrata a sociedade da Guiné-Bissau. Parece ser bastante interessante.
Não acho que a mídia ou os games tenham aumentado a violência. Acho que são um reflexo da sociedade, apenas isso.
Mas é uma boa coisa para refletir e, quem sabe, escrever sobre.
Deixo uma ressalva: perceba que sou apenas um universitário (e não é falsa modéstia) e provavelmente devo dizer muitas asneiras nos meus textos. Mas é assim que se aprende, não? rs
Eu acho que quando se fala de sociedade primitiva (não sei o contexto da autora), costuma-se referir a sociedade anteriores a civilizações conhecidas e organizadas. acho que a sociedade de Hamurabi não é considerado primitiva, sei lá. E também julgo que a sociologia e a história também usam o termo "homem primitivo" e quando falamos de homens primitivos consequentemente a sociedade deles é "primitiva". De qualquer forma, concordo que o ocidente chama a praticamente tudo não ocidentado de primitivo ou incivilizado, mas desconhecendo o contexto da autora e da forma como escreveste aquela linha, não consigo ver uma leitura etnocentrista. Mas, eu li apenas a aquela linha, e tu o livro todo.
ResponderExcluirlol, não penses que eu sei mais do que tu sobre as sociedade por ter escrito um livro, porque embora tenha as minhas ideias e pseudo(?)-certezas, eu sou um monte de dúvidas ambulante... e cá vai a minha opinião sobre os universitário: são uns arrogantes que discutem mais com "o título" do que com argumentos, pelo menos a maioria que eu conheço.
Lol, acho que vou ser mal interpretado na minha última linha. Só queria dizer que o título universitário não confere a validez de pensamento e nem a falta dele desmerece um pensamento válido.
ResponderExcluir"Eu acho que quando se fala de sociedade primitiva (não sei o contexto da autora), costuma-se referir a sociedade anteriores a civilizações conhecidas e organizadas."
ResponderExcluirAté aproximadamente meados (um pouco mais) do século XX o termo "primitivo" era usado por antropólogos e sociólogos (com ressalvas) como forma de se referir a sociedades e culturas supostamente atrasadas.
Como se não fosse suficiente, muitos diziam que o povo da África e Ásia ( e tribos indígenas em todo o mundo) deviam ser vistos como uma máquina do tempo que oferecia um vislumbre das sociedades antigas (atrasadas e antigas)e que deveriam ser analisadas antes que "evoluíssem".
Concordo com você em relação ao título universitário.
Eu acho que a autora usou o termo para denotar tempo e não de uma forma qualitativa. Mas deixa em aberto a possibilidade de interpretação errada.
Eu devia ter usado outro exemplo (e são vários) para mostrar como o livro foi feito de forma corrida, mas agora já foi rsrs
Eu já li o "Mentes Inquietas" no meu tempo de faculdade, e notei essa mesma tendência, durante o livro de "colocar todos sob suspeita".
ResponderExcluirDe um modo geral, não desmereço o livro todo.. mas não gostei da forma como ela abordou, fazendo com que ao final da leitura pareça que todos nós somos hiperativos. E mais, o último capítulo parecia insinuar que esse vai ser nosso futuro, que devemos considerar que hiperatividade vai ser um diferencial vantajoso daqui a alguns anos. Não me arrependo da leitura, mas tenho essas ressalvas quanto à abordagem.
Obrigada pela visita ao meu blog.
Mari
Mari
ResponderExcluirEu também não desmereço o Mentes Perigosas, afinal de contas é sim um livro interessante, mas com diversas falhas.
Sempre tenho muitas ressalvas com livros que parecem ter sido escritos numa maratona: "Quem terminar primeiro ganha!" rs
O Mentes Inquietas fala sobre DDA?
Eu suspeito que eu tenha DDA... Mas ainda não me consultei com o médico.
DDA é a nova doença da moda, né? TOC também tava na moda até recentemente rs
Sou suspeito pra falar dessas coisas, pois sou meio hipocondríaco... Só de ouvir falar de uma doença (mesmo que seja comum apenas numa tribo de uma ilha distante do outro lado do mundo) e já estou procurando os sinais e sintomas na internet rs
Oi,
ResponderExcluirO livro Mentes Inquietas fala sobre DDA e TDHA. A lista de "sintomas da hiperatividade" é bem extensa, e o texto todo meio que faz com que a gente termine a leitura achando que também é hiperativo, rs. Eu já pensei que poderia ter DDA.. mas não tenho perfil para isso.
Achei engraçado e interessante a sua colocação: (doença da moda). Parece mesmo que, às vezes, uma doença é a "doença do momento"... Conheço gente que mal vê uma reportagem e já sai pensando que está doente. Há cerca de seis anos atrás, era frequente mães dizerem às professoras que não conseguiam educar seus filhos por que eram hiperativos. E até mesmo professores usavam esta palavra levianamente, sem considerar que é preciso um diagnóstico primeiro.
Ainda bem que esta "onda abaixou um pouco a crista", e agora as pessoas se mostram mais conscientes.
sinceramente o livro mente perigosas é muito bom! eu não preciso ser leigo p\ achar ótimo! e o lance da desconfiança : é bem isso mesmo, psicopatas são seus amigos e parentes. isso quando o psicopata não é você. na verdade a Ana Beatriz é bem realista nesse livro, pq ela descreve muitos psicopatas como ele(a)s realmente são : sob qualquer suspeita.
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