Leia a Pt.1 e a Pt.2 [Spoilers abaixo]
Na primeira parte dessa série de posts eu falei sobre a
trama de Prometheus, na segunda parte
eu falei sobre incógnitas e peculiaridades; agora nesta terceira parte
abordarei as personagens e as incongruências.
Dentre as personagens do filme, quatro são realmente
relevantes: David, Elizabeth Shaw, Charlie Holloway e Meredith Vickers. Shaw e
Holloway, o casal do filme, representam dois pontos de vista bastante distintos,
com a primeira se apegando a seus princípios religiosos, enquanto que o segundo,
à razão, mas essa dicotomia não é muito intensa e não existe apelação para
nenhum dos dois lados.
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Elizabeth Shaw e Charlie Holloway |
É possível traçar um paralelo entre Prometheus e O Oitavo
Passageiro, no que se trata da presença feminina. É bastante clara a intenção
do diretor em ressaltar a força de Elizabeth Shaw, tal qual fez com Ellen
Ripley. Isso é mostrando em diversos momentos, tanto na sua busca incansável
por uma resposta, quanto em suas atitudes e comportamento. Um dos momentos mais
tensos é justamente quando a personagem, com uma criatura prestes a eclodir de
seu corpo, faz todo o necessário para retirá-la.
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Elizabeth Shaw |
Já sobre o seu parceiro, o cientista Holloway, não o vejo
como contraditório, diferindo assim da avaliação de alguns. Ele não buscava
apenas uma civilização alienígena, mas também um contato; algo transcendente.
Então é compreensível que tenha se decepcionado ao encontrar os seus deuses (os
“engenheiros” da raça humana) mortos.
Meredith Vickers, bem interpretada por Charlize Theron, encarna o
pragmatismo da empresa que representa: a Weyland Corporation. Mas sua
participação perde um pouco do brilho quando se releva como a filha de Peter
Weyland, o homem que dá nome a companhia e que financia tudo.
Além de Elizabeth Shaw, quem também se destaca dos demais é o androide
David, do qual tratei brevemente na Pt.1. Embora seja um fantoche de Peter Weyland,
o robô fala sobre liberdade, mesmo que diga
não estar familiarizado com “querer” qualquer coisa ou possuir desejos. “Todos
não querem a morte de seus pais?”, diz ele, referindo-se a Weyland, seu titereiro.
Um personagem paradoxal do início ao fim, sem deixar de ser intrigante.
Os pontos falhos estão principalmente em personagens mal
construídos, como é o caso do biólogo e do geólogo, que demonstram comportamentos
que extrapolam qualquer possibilidade de suspensão de descrença. Como pode um
biólogo, num mundo diferente e aparentemente hostil, brincar com uma criatura
claramente ameaçadora, como se a mesma fosse um filhote de labrador? Foi um
clichê dispensável, sem nexo e que não contribuiu em nada para o desenvolvimento
do filme.
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Milburn, o biólogo |
Dos deslizes, o mais difícil de acreditar foi o ato de
altruísmo do capitão da nave Prometheus,
que junto com seus tripulantes, abriu mão da própria vida para destruir a nave
alienígena. O estranhamento é inevitável, uma vez que em momento algum essas
personagens foram mostradas de uma maneira que explicasse tal desprendimento.
Mesmo com defeitos, mesmo que em alguns momentos a
inteligência de quem assiste ao filme seja subestimada, ainda assim o resultado
final é positivo. E sobra bastante espaço para que haja uma continuação, que é
o que de fato ocorrerá.
Quero encerrar recomendando algumas outras análises
interessantes: