Eva |
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin - 2011) é
uma adaptação do livro de mesmo nome,da escritora Lionel Shriver. O longa,
dirigido por Lynne Ramsay, nos apresenta logo em seu início a Eva (Tilda
Swinton), a mãe do garoto ao qual o título se refere. Os 110 minutos do filme
transcorrem através da perspectiva dessa mãe diante dos acontecimentos que
mudam o rumo de sua vida e de sua família.
Eva vive enfurnada em uma casa que aparenta abandono;
relegada à solidão e sofrimento, a nossa protagonista apenas deixa sua bolha
para fazer compras e procurar emprego e mesmo isso parece um grande esforço. Em
antítese com esse cenário de decadência social, somos levados a outro momento, no
qual vemos uma Eva bem sucedida profissionalmente, casada e com filhos. O filme
seguirá assim até o seu desfecho, seguindo duas linhas distintas no tempo.De forma sucinta descreverei separadamente essas linhas temporárias, seguindo a ordem cronológica:
Linha 1: Eva não queria ser mãe, mas cede ao desejo de Franklin, seu marido. Nasce então Kevin e junto com ele a relação extremamente conturbada que marcaria toda a experiência de ambos. O filho é representado em quatro momentos de seu desenvolvimento: ainda bebê, em dois momentos da infância (pelos atores Rock Duer e Jasper Newell) e na adolescência (pelo excelente Ezra Miller). O menino, desde a sua primeira infância (primeiros seis anos de idade) já revela um comportamento peculiar, demonstrando o que parecem ser duas máscaras, uma na presença do pai e outra, na presença da mãe. Ao lado do pai, um menino dócil e ingênuo, enquanto que em frente à mãe, uma criança fria e perturbadora. Isso automaticamente gera temor em Eva e deixa no ar uma incógnita acerca da verdadeira essência de Kevin.
À medida que Kevin cresce, essas características se intensificam exponencialmente. Um Saara interpõe-se entre mãe e filho e todas as tentativas da primeira em se aproximar não resultam em nada. Surgem dúvidas sobre as causas do comportamento doentio do garoto, que não se resumem a distanciamento e ausência de empatia, mas que também transbordam em crueldade. Se em alguns momentos cogitamos que a inépcia de Eva em lidar com o filho é o que resulta na forma dele agir, logo deixamos essa possibilidade de lado, percebendo que o fundo do poço é mais embaixo.
Diálogo entre Kevin e Eva |
E falando na irmã, Lucy (Ursula Parker), ela representa o exato oposto do irmão. Dócil e prestativa, a menina acaba sendo um alívio para a sua mãe e, ao mesmo tempo, um motivo de constante preocupação, pois Eva teme que o irmão lhe faça algum mal. Vale aqui ressaltar o ótimo desempenho de todos os atores mirins nesse filme. Conseguem nos convencer, assustar e cativar.
Eva, Lucy, Franklin e Kevin, ao fundo |
Linha 2: Os desencadeamentos dos atos de Kevin se refletem na face de Eva. A expressão já cansada de outrora se converte em dor e desespero. Tilda Swinton está magnífica e inspirada nesse papel, revelando uma capacidade tremenda de incorporar um personagem e transferir parte das emoções para àqueles que a assistem. A sensação de desolação, desconsolo e até claustrofobia são inevitáveis.
Nesse estágio resta a ela apenas tentar se reintegrar à sociedade, mas seus vizinhos e moradores da cidade representam um verdadeiro obstáculo. Num dos poucos momentos do filme em que a personagem sorri, logo é esbofeteada por uma transeunte que a reconhece e sente asco pela momentânea expressão de alegria causada por ter conseguido um emprego qualquer num escritório.
Kevin |
Indico abaixo dois textos do blog que tratam sobre
psicopatia:
A seguir indico também algumas outras análises que foram
feitas sobre o filme: