É muito comum e até esperado que haja grandes diferenças entre livros e suas adaptações, sejam para o cinema ou para a televisão, mas isso não nos impede de, mesmo assim, comparar. Acredito que é desnecessário fazer uma introdução explicando a trama de Guerra dos Tronos, já que se trata de um post destinado às pessoas que ou assistiram a série ou leram o livro, ou ambos.
Vale ressaltar que outras propostas para adaptações foram feitas, inclusive para o cinema, mas aquela que foi considerada a melhor pelo autor foi justamente a que possuía maiores possibilidades de incorporar de forma mais próxima possível a essência dos livros. No caso, a produção de uma série pela HBO.
A adaptação não decepciona e é muito bem feita, mas aspectos negativos não faltam. Antes quero falar sobre as características positivas.
Pontos Positivos:
A Muralha |
A produção também está ótima, nos convencendo daquilo que é mostrado. A ambientação é realmente convincente, para não falar da reprodução das cidades do livro, como Winterfell e Porto Real.
Varys - A aranha |
Também é louvável que com apenas dez episódios os diretores tenham conseguido transpor para as telas o mundo criado por George R. R. Martin, mesmo que algumas heresias tenham sido cometidas.
Assim como no livro, a série nos apresenta um mundo que, embora de fantasia, soa bastante verossímil. Há pouquíssimo maniqueísmo, o que resulta no fato de que é praticamente impossível definir vilões e heróis, certos e errados etc. E há também, claro, o fato de se tratar de um livro destinado, principalmente, ao público adulto. A trama se centra em conflitos políticos e nas guerras entre as Casas e não há pudores; a série não retirou esse aspecto crucial para que um público maior, no que se trata de faixa etária, pudesse ver.
Pontos Negativos:
Os pontos negativos serão evidentes principalmente para os que já leram o livro. Comecemos pelos mais banais até os mais relevantes.
A série não passa uma boa noção de distância. No episódio 03 (Lord Snow) Catelyn (Michelle Fairley) sai de Winterfell e vai para Porto Real e a sensação que fica é a de que ela simplesmente deu uma cavalgada rápida até lá.
O Cão de Caça (Rory McCann) não é nem de longe tão assustador quanto o do livro. Fazendo uma comparação o da série fica até simpático.
Os lobos dos filhos de Ned são importantes na história, mas na série eles ficam a maior parte do tempo em quinquagésimo plano.
Vaserys é mostrado de namorico com uma escrava, sendo que no livro a única coisa que ele fazia era estar, durante todo o tempo, obcecado por ganhar seu exército e retomar o trono de ferro, sem contar que ele se via praticamente como um deus e desprezava os demais.Ned Stark |
Embora o ator que interpreta Ned Stark atue muito bem, existe uma diferença sútil entre o Eddard do livro e o da série; o do livro é mais forte, enquanto que o da série em diversos momentos parece estar prestes a chorar.
A grandiosidade das batalhas, com milhares de homens lutando, não foi bem transposta para as telas, provavelmente por questões orçamentárias. Isso incomoda um pouco, pois de maneira recorrente discorre-se acerca dos milhares de homens que cada Casa possui para travar a guerra, mas o que vemos mais parece uma briga entre tribos. Loras e Renly |
Outro aspecto é que enquanto o livro preza pela sutiliza, a série, talvez para entregar as coisas já mastigadas, deixa tudo escancarado. Percebemos isso, por exemplo, na questão da homossexualidade de Loras Tyrell (Finn Jones) e Renly Baratheon (Gethin Anthony), que no livro pode até passar despercebido, enquanto que na série... Há uma análise interessante sobre isso aqui: “Personagens Gays de Game of Thrones”.
Outro exemplo é o Lorde Baelish (Aidan Gillen): no livro é muito mais sútil e até um pouco misterioso, enquanto que na série tudo quanto a ele é evidente.
No episódio 07 (You Win or You Die), Tywin Lannister (Charles Dance), que no livro sempre está com belas roupas ou com sua armadura dourada e bastante ornamentada, na série é mostrado, de início, com uma roupa qualquer e, ainda por cima, estripando um alce! E a conversa que ele tem com Jaime (Nikolaj Coster) não acontece nos livros; ao menos não nos dois primeiros.
No último capítulo, o décimo (Fire and Blood), uma cena que só ocorre no final do 2° livro (a conversa de Catelyn com Jaime) é adiantada, sendo que diversas coisas são modificadas e o contexto é totalmente deturpado. Não podemos esquecer que esta 1° Temporada faz spoilers do livro dois e talvez até dos demais (cujos quais, até o momento, ainda não li). Eu falo sobre isso nesse post “aqui”.
Tyron |
Agora, o que de longe mais me incomodou foi o seguinte:
A Shae (prostituta do Tyron) da série em nada se parece com a Shae do livro. Mesmo sendo uma personagem bastante secundária, é lamentável vê-la tão descaracterizada, sendo que a mesma representa um meio de explorar um dos melhores personagens da história, que é o próprio Tyron.
Sem contar que ele - Tyron - só conta para a Shae (Sibel Kekilli) sobre a prostituta com a qual casou (sem saber que se tratava de uma prostituta contratada pelo irmão Jaime para tirar sua virgindade) no 2° livro, A Fúria dos Reis, e isso ocorre num momento de tensão e não numa brincadeira entre bebidas.A Shae (prostituta do Tyron) da série em nada se parece com a Shae do livro. Mesmo sendo uma personagem bastante secundária, é lamentável vê-la tão descaracterizada, sendo que a mesma representa um meio de explorar um dos melhores personagens da história, que é o próprio Tyron.
Tyron não se abre com qualquer um e é extremamente desconfiado e inteligente, então não faz sentido representá-lo como um tolo de coração mole que deixa que todos saibam de suas vergonhas e temores.
Mesmo com os deslizes, vale muito a pena assistir a série. É preciso considerar que se trata de uma adaptação de um livro imenso e que, exatamente por causa disso, muitas coisas precisaram ser cortadas e alteradas. Recomendo!
Recomendo também a leitura do post “Guerra dos Tronos e a Morte das virtudes, dos imaculados e dos honrados.”.