segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quando Fala o Coração - Datado e Atemporal


Sim, datado e atemporal. Essa ótima obra do grande cineasta Hitchcock consegue ser as duas coisas. Mas o fato de ser, em parte, datado, não prejudica muito o filme, mas pessoas da nova geração podem (e provavelmente irão) sentir um estranhamento.

Na trama, o médico Edwardes é contratado como diretor de uma clínica para doentes mentais. Já de início apaixona-se por Constance, psiquiatra da instituição. Aqui se inicia a principal característica que faz com que o filme se torne datado: a idealização do amor como algo mágico.

Atualmente preza-se pelo realismo, mesmo quando se trata de coisas “mágicas”. Os novos diretores buscam sempre dar explicações razoáveis para o que ocorre em seus filmes, mesmo que estes sejam sobre bruxas, homens que voam etc. Mas nessa obra de Hitchcock ocorre algo diferente, que presumo que nos filmes da época fosse algo comum: no primeiro beijo entre Edwardes e Constance, ao menos umas quatro postas sem abrem, uma atrás da outra, como se tivessem coreografado. Para os mais velhos, o poder do amor, para os mais jovens, algo totalmente sem sentido.

Fiquei me perguntando se tinha entrando uma brisa pela janela ou se iria se tornar um filme de fantasma de uma hora pra outra. Mas não, foi apenas um recurso utilizado pelo diretor para expressar a intensidade do momento.
Daí em diante o filme faz jus ao título brasileiro.
 
É atemporal, pois trata de questões que até hoje são recorrentes e não deixam de ser interessantes.
Edwardes
passa a se comportar de forma estranha e a ter súbitos ataques de pânico. Após um desses ataques, descobre-se que ele na verdade não é quem diz ser e o próprio não parece dar-se conta disso. Ele foge e começa então uma caçada, na qual a polícia o tem como suspeito de assassinato. Durante todo esse processo, Constance se arrisca, acompanhando-o e tentando fazer com que se lembre quem é.

A base teórica de todo o filme está baseada nos argumentos de Freud e nesse sentido tudo é colocado de forma bastante didática. As atuações são ótimas e é difícil não se impressionar com alguns aspectos técnicos. A cena do sonho de Edwardes, por exemplo, foi trabalho de Salvador Dalí. O filme também ganhou o Oscar na categoria de melhor Trilha Sonora e foi merecido. A trilha é fantástica e consegue nos deixar tensos. Em dois momentos do filme, a mulher que estava ao meu lado, na mostra de Cinema Hitchcock do CCBB, soltou dois gritos.

Percebi algumas incongruências, perdoáveis. Entre elas, uma cena na qual o personagem olha para uma cicatriz de queimadura em sua mão e entra em crise. Essa cicatriz estava trazendo à tona alguma lembrança, mas o desfecho chega e isso não é explicado.

A partir do meio do filme já fica ligeiramente previsível o que irá acontecer, mas isso também não prejudica e não são todos que percebem. 
Quando Fala o Coração (Spellbound), embora possua 66 anos, ainda surpreende e agrada muitos. Fica a recomendação.


Quando Fala o Coração (Spellbound, 1945).
Direção: Alfred Hitchcock
Estados Unidos – 111 min.


3 comentários:

  1. Sabes, os bons filmes antigos são sempre maravilhosos, no entanto, por exemplo, como falaste, a meio do filme tudo se torna previsivel, isso acontece porque muitos outros filmes mais recentes foram beber desses antigos e até nós, de hoje, vermos esses antigos, já estamos fartos de ver em outros o mesmo enredo, e isso serve também para a sua desvalorização, não contando com a comparação entre os efeitos especiais, a fotografia e tudo o mais.
    Eu lembro-me de ter visto CASABLANCA com a expectativas em alta, mas o filme não me mostrou nada que eu já não tivesse visto, de modo que fico admirado quando vejo pessoas da minha geração a dizerem que é o melhor filme do mundo, de maneira que penso: não estão apenas a armar-se em grandes cinéfilos e a ceder à pressão dos pares?

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  2. Olha, alguns filmes antigos realmente estão na minha lista dos melhores já vistos. O Network, de 1976 (nem é tão antigo assim), por exemplo, considero fantástico e atemporal e está entre meus dez filmes favoritos.

    Mas conheço algumas pessoas que idolatram filmes antigos e negligenciam totalmente os demais; acredito que essas pessoas fazem isso para tentarem parecer mais cultas ou descoladas.
    É cool gostar de filmes antigos rs

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  3. Eu tenho esse complexo em relação à literatura. Leio mais os clássicos do que os recentes, mas não para parecer descolado, mas porque, sei lá... provavelmente para ser descolado.

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