sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Precisamos Falar Sobre o Kevin – Análise Crítica


Eva
Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin - 2011) é uma adaptação do livro de mesmo nome,da escritora Lionel Shriver. O longa, dirigido por Lynne Ramsay, nos apresenta logo em seu início a Eva (Tilda Swinton), a mãe do garoto ao qual o título se refere. Os 110 minutos do filme transcorrem através da perspectiva dessa mãe diante dos acontecimentos que mudam o rumo de sua vida e de sua família.
Eva vive enfurnada em uma casa que aparenta abandono; relegada à solidão e sofrimento, a nossa protagonista apenas deixa sua bolha para fazer compras e procurar emprego e mesmo isso parece um grande esforço. Em antítese com esse cenário de decadência social, somos levados a outro momento, no qual vemos uma Eva bem sucedida profissionalmente, casada e com filhos. O filme seguirá assim até o seu desfecho, seguindo duas linhas distintas no tempo.

De forma sucinta descreverei separadamente essas linhas temporárias, seguindo a ordem cronológica:

Linha 1: Eva não queria ser mãe, mas cede ao desejo de Franklin, seu marido. Nasce então Kevin e junto com ele a relação extremamente conturbada que marcaria toda a experiência de ambos. O filho é representado em quatro momentos de seu desenvolvimento: ainda bebê, em dois momentos da infância (pelos atores Rock Duer e Jasper Newell) e na adolescência (pelo excelente Ezra Miller). O menino, desde a sua primeira infância (primeiros seis anos de idade) já revela um comportamento peculiar, demonstrando o que parecem ser duas máscaras, uma na presença do pai e outra, na presença da mãe. Ao lado do pai, um menino dócil e ingênuo, enquanto que em frente à mãe, uma criança fria e perturbadora. Isso automaticamente gera temor em Eva e deixa no ar uma incógnita acerca da verdadeira essência de Kevin.


À medida que Kevin cresce, essas características se intensificam exponencialmente. Um Saara interpõe-se entre mãe e filho e todas as tentativas da primeira em se aproximar não resultam em nada. Surgem dúvidas sobre as causas do comportamento doentio do garoto, que não se resumem a distanciamento e ausência de empatia, mas que também transbordam em crueldade. Se em alguns momentos cogitamos que a inépcia de Eva em lidar com o filho é o que resulta na forma dele agir, logo deixamos essa possibilidade de lado, percebendo que o fundo do poço é mais embaixo.
Diálogo entre Kevin e Eva
Temos também o pai ausente, que se recusa a enxergar qualquer indício de que haja algo errado. E sinais não faltam: o rapaz comete diversas atrocidades, desde manipular e causar, de diversas maneiras, sofrimento psicológico à sua mãe, até matar um animal de estimação jogando-o no triturador e atirar ácido no rosto da irmã, fazendo com que esta perdesse um olho.

E falando na irmã, Lucy (Ursula Parker), ela representa o exato oposto do irmão. Dócil e prestativa, a menina acaba sendo um alívio para a sua mãe e, ao mesmo tempo, um motivo de constante preocupação, pois Eva teme que o irmão lhe faça algum mal. Vale aqui ressaltar o ótimo desempenho de todos os atores mirins nesse filme. Conseguem nos convencer, assustar e cativar.

Eva, Lucy, Franklin e Kevin, ao fundo
O ápice da perversidade ocorre quando Kevin promove uma verdadeira chacina em sua escola, assassinando vários colegas. Antes disso, porém, mata o próprio pai e a irmã. Tudo com um arco e flecha ganhado de presente em seu aniversário. Trata-se de algo particularmente amedrontador exatamente por ter um paralelo com acontecimentos recentes do mundo real. Temos o caso de Columbine como triste exemplo.


Linha 2: Os desencadeamentos dos atos de Kevin se refletem na face de Eva. A expressão já cansada de outrora se converte em dor e desespero. Tilda Swinton está magnífica e inspirada nesse papel, revelando uma capacidade tremenda de incorporar um personagem e transferir parte das emoções para àqueles que a assistem. A sensação de desolação, desconsolo e até claustrofobia são inevitáveis.


Nesse estágio resta a ela apenas tentar se reintegrar à sociedade, mas seus vizinhos e moradores da cidade representam um verdadeiro obstáculo. Num dos poucos momentos do filme em que a personagem sorri, logo é esbofeteada por uma transeunte que a reconhece e sente asco pela momentânea expressão de alegria causada por ter conseguido um emprego qualquer num escritório.

Kevin
Muitas questões são levantadas de forma sutil, como a instituição da família, o papel dos pais na criação dos filhos, um possível complexo de Édipo, maldade inata e, claro, a psicopatia. E mesmo a personalidade sociopática de Kevin é colocada em dúvida nos momentos derradeiros do filme, quando vislumbramos pela primeira vez uma possível vulnerabilidade no personagem. Seja como for, é um filme que vale ser visto.

Indico abaixo dois textos do blog que tratam sobre psicopatia:



A seguir indico também algumas outras análises que foram feitas sobre o filme:


6 comentários:

  1. Olá!
    Foi um grande prazer conhecer seu blog.Aproveito meu tempo para navegar e ler textos e poemas feitos por pessoas que gostam de escrever.
    Que bom que você é uma delas.
    Grande abraço
    se cuida

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    Respostas
    1. Olá!
      Que bom que você gostou do blog! Fico feliz :)
      Volte mais vezes para comentar.
      Abraço

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  2. Já li sobre esse filme (não lembro em qual blog, ops).
    Parece ser um drama denso, instigador.
    Boa segunda-feira para você!

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    Respostas
    1. É exatamente isso que você percebeu mesmo. E é bastante tenso também. Recomendo que assista :)
      Uma ótuma segunda-feira pra você também!

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  3. Já havia visto o livro antes, e depois o filme, mas só agora me interessei verdadeiramente pelo história. Parabéns pela ótima análise.

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    1. Fico feliz que tenha gostado :)
      Volte mais vezes e leia outras análises!

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