É muito comum e até esperado que haja grandes diferenças entre livros e suas adaptações, sejam para o cinema ou para a televisão, mas isso não nos impede de, mesmo assim, comparar. Acredito que é desnecessário fazer uma introdução explicando a trama de Guerra dos Tronos, já que se trata de um post destinado às pessoas que ou assistiram a série ou leram o livro, ou ambos.
Vale ressaltar que outras propostas para adaptações foram feitas, inclusive para o cinema, mas aquela que foi considerada a melhor pelo autor foi justamente a que possuía maiores possibilidades de incorporar de forma mais próxima possível a essência dos livros. No caso, a produção de uma série pela HBO.
A adaptação não decepciona e é muito bem feita, mas aspectos negativos não faltam. Antes quero falar sobre as características positivas.
Pontos Positivos:
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A Muralha |
Bom, primeiramente vale ressaltar que as transições, mostrando o desenrolar da história dos diversos personagens foi feita de maneira muito eficiente. No livro cada capítulo possui o nome de uma personagem e tudo se desdobra desta maneira e, portanto, havia a dúvida se a série conseguiria transpor isso para as telas de forma decente.
A produção também está ótima, nos convencendo daquilo que é mostrado. A ambientação é realmente convincente, para não falar da reprodução das cidades do livro, como Winterfell e Porto Real.
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Varys - A aranha |
Os atores da série estão impecáveis e percebe-se que quando não refletem muito bem, em alguns momentos, a essência de suas respectivas personagens, isso ocorre mais por questões de direção do que por déficit na capacidade de atuação. Merecem uma menção especial os atores Sean Bean (Eddard Stark), Peter Dinklage (Tyron), Lena Headey (Cersei), Harry Lloyd (Vaserys), Conleth Hill (Varys), Emilia Clarke (Daenerys) e Jason Momoa (Khal Drogo).
Também é louvável que com apenas dez episódios os diretores tenham conseguido transpor para as telas o mundo criado por George R. R. Martin, mesmo que algumas heresias tenham sido cometidas.
Assim como no livro, a série nos apresenta um mundo que, embora de fantasia, soa bastante verossímil. Há pouquíssimo maniqueísmo, o que resulta no fato de que é praticamente impossível definir vilões e heróis, certos e errados etc. E há também, claro, o fato de se tratar de um livro destinado, principalmente, ao público adulto. A trama se centra em conflitos políticos e nas guerras entre as Casas e não há pudores; a série não retirou esse aspecto crucial para que um público maior, no que se trata de faixa etária, pudesse ver.
Pontos Negativos:
Os pontos negativos serão evidentes principalmente para os que já leram o livro. Comecemos pelos mais banais até os mais relevantes.
A série não passa uma boa noção de distância. No episódio 03 (Lord Snow) Catelyn (Michelle Fairley) sai de Winterfell e vai para Porto Real e a sensação que fica é a de que ela simplesmente deu uma cavalgada rápida até lá.
O Cão de Caça (Rory McCann) não é nem de longe tão assustador quanto o do livro. Fazendo uma comparação o da série fica até simpático.
Os lobos dos filhos de Ned são importantes na história, mas na série eles ficam a maior parte do tempo em quinquagésimo plano.
Vaserys é mostrado de namorico com uma escrava, sendo que no livro a única coisa que ele fazia era estar, durante todo o tempo, obcecado por ganhar seu exército e retomar o trono de ferro, sem contar que ele se via praticamente como um deus e desprezava os demais.
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Ned Stark |
Embora o ator que interpreta Ned Stark atue muito bem, existe uma diferença sútil entre o Eddard do livro e o da série; o do livro é mais forte, enquanto que o da série em diversos momentos parece estar prestes a chorar.
A grandiosidade das batalhas, com milhares de homens lutando, não foi bem transposta para as telas, provavelmente por questões orçamentárias. Isso incomoda um pouco, pois de maneira recorrente discorre-se acerca dos milhares de homens que cada Casa possui para travar a guerra, mas o que vemos mais parece uma briga entre tribos.
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Loras e Renly |
Outro aspecto é que enquanto o livro preza pela sutiliza, a série, talvez para entregar as coisas já mastigadas, deixa tudo escancarado. Percebemos isso, por exemplo, na questão da homossexualidade de Loras Tyrell (Finn Jones) e Renly Baratheon (Gethin Anthony), que no livro pode até passar despercebido, enquanto que na série... Há uma análise interessante sobre isso aqui: “Personagens Gays de Game of Thrones”.
Outro exemplo é o Lorde Baelish (Aidan Gillen): no livro é muito mais sútil e até um pouco misterioso, enquanto que na série tudo quanto a ele é evidente.
No episódio 07 (You Win or You Die), Tywin Lannister (Charles Dance), que no livro sempre está com belas roupas ou com sua armadura dourada e bastante ornamentada, na série é mostrado, de início, com uma roupa qualquer e, ainda por cima, estripando um alce! E a conversa que ele tem com Jaime (Nikolaj Coster) não acontece nos livros; ao menos não nos dois primeiros.
No último capítulo, o décimo (Fire and Blood), uma cena que só ocorre no final do 2° livro (a conversa de Catelyn com Jaime) é adiantada, sendo que diversas coisas são modificadas e o contexto é totalmente deturpado.
Não podemos esquecer que esta 1° Temporada faz spoilers do livro dois e talvez até dos demais (cujos quais, até o momento, ainda não li). Eu falo sobre isso nesse post “aqui”.
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Tyron |
Agora, o que de longe mais me incomodou foi o seguinte:
A Shae (prostituta do Tyron) da série em nada se parece com a Shae do livro. Mesmo sendo uma personagem bastante secundária, é lamentável vê-la tão descaracterizada, sendo que a mesma representa um meio de explorar um dos melhores personagens da história, que é o próprio Tyron.
Sem contar que ele - Tyron - só conta para a Shae (Sibel Kekilli) sobre a prostituta com a qual casou (sem saber que se tratava de uma prostituta contratada pelo irmão Jaime para tirar sua virgindade) no 2° livro, A Fúria dos Reis, e isso ocorre num momento de tensão e não numa brincadeira entre bebidas.
Tyron não se abre com qualquer um e é extremamente desconfiado e inteligente, então não faz sentido representá-lo como um tolo de coração mole que deixa que todos saibam de suas vergonhas e temores.
Mesmo com os deslizes, vale muito a pena assistir a série. É preciso considerar que se trata de uma adaptação de um livro imenso e que, exatamente por causa disso, muitas coisas precisaram ser cortadas e alteradas. Recomendo!
Recomendo também a leitura do post “Guerra dos Tronos e a Morte das virtudes, dos imaculados e dos honrados.”.