segunda-feira, 2 de abril de 2012

Shame - Análise Crítica


[Muitos spoilers após o primeiro parágrafo]
Brandon Sullivan (Michael Fassbender)
Excelente filme de Steve McQueen, Shame trata de vício, compulsão, impulsividade e até de temas mais polêmicos como incesto e suicídio. O protagonista é Brandon Sullivan (Michael Fassbender), homem que se esforça em conciliar seus vícios com sua vida social e profissional. Logo no início do filme já se percebe que essa conciliação é falha. O computador de seu escritório lotado de pornografia e sua atenção constantemente voltada ao sexo, enquanto que os demais aspectos de sua vida ficam relegados ao segundo plano.
Sua rotina, voltada totalmente ao vício, porém controlada, sai completamente dos trilhos quando da chegada de sua irmã Sissy (Carey Mulligan), que implora para ficar hospedada em seu apartamento por alguns dias. Gera estranhamento quando Brandon a encontra nua no banheiro de seu apartamento, tomando banho, e ela não demonstra qualquer inibição e, ainda por cima, devolve ao irmão a tolha que este havia lhe dado para que se cobrisse. Até esse momento ainda não sabemos que se trata de irmãos, mas logo isso é revelado.

Brandon e Sissy (Carey Mulligan)
Tal qual o irmão, Sissy é compulsiva e impulsiva, embora não seja, aparentemente, ninfomaníaca. Enquanto o irmão tenta se cercar de certa organização, a irmã é desleixada e deixa tudo jogado pelos cantos. Mas esse não é o real motivo do desconforto que o irmão sente ao ficar em sua presença. Ele sente desejo por ela e isso é recíproco. Há vários indícios disso e também da origem do comportamento de ambos. São pessoas com feridas latentes: Sissy, maníaco-depressiva e o irmão, bom, já sabemos.

Sissy
Tudo leva a crer, embora não possamos sair do campo da especulação, que os irmãos sofreram abusos sexuais na infância. Isso se percebe no comportamento autodestrutivo que apresentam, no desejo incestuoso (que se manifesta mais de uma vez no decorrer do filme e fica bastante claro que já ocorreu sexo entre ambos), na culpa extrema e na frase que Sissy diz a certa altura do longa: “A culpa não é nossa... Mas sim de onde viemos”.

No começo a nudez de Brandon, exposta sem quaisquer restrições, pode chocar, mas considerando o contexto, faz sentido que esse recurso seja utilizado. As atuações de Fassbender e Mulligan são estonteantes e é compreensível que muitos tenham se indignado com a não indicação dos atores para o Oscar.
No fim das contas Shame representa um olhar mais atento e íntimo na direção do descontrole, da degradação que isso gera e na dor das personagens, que parecem próximas a sucumbir.

9 comentários:

  1. Ao assistir o filme não levei tanto para o lado do incesto não, interpretei mais a repulsa dele pela irmã como mais uma forma de evitar afetividade em sua vida, principalmente com ente familiar (ainda mais considerando: A) sua problemas familiares pretéritos; B) que ele parece não saber lidar e, por conta disso, evita quaisquer tipos de afetividades - vide a brochada com a mulata). Mas o incesto pode ser um caminho também.

    Em relação ao possível assédio, também pensei nisso.

    De qq forma, gostei mto do filme.
    Abração, Catarina.

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    1. Oi! Obrigado pelo comentário!

      Sobre o incesto, essa foi a minha interpretação. Temos a cena do banho, no início do filme, a cena em que ele se desespera quando ouve a irmã fazendo sexo com o seu chefe e, após isso, aquela cenas em que ele fica sobre ela, logo após ela encontrá-lo se masturbando no banheiro. Se isso tudo não fosse suficiente, ainda tem o momento em que ela, a Sissy, deita ao seu lado na cama e ele fica perturbado, perde o controle e a expulsa. Não que irmãos não possam dormir juntos, não é isso, mas sim que, considerando todo o contexto, faz sentido que haja uma história de abuso e incesto entre eles.

      Obrigado pelo comentário! Abraço

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  2. Sofro do mesmo mal do personagem do filme, e te digo, é exatamente isso, impressionante como conseguiram fazer um retrato tao fiel dessa triste condição humana. Triste pelo fato dela te impedir viver uma vida inteira, o sexo te consome e norteia os minutos do seu dia. Enfim, espero que as pessoas vejam esse filme como um relato real da vida de muitas pessoas.

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    1. Muito bom receber um comentário de alguém que sofre do mesmo mal que o protagonista do filme, assim confirmamos que a atuação dos atores realmente corresponde ao que as pessoas nessa situação sentem e passam.

      Obrigado pelo comentário!

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  3. Gostei do filme, achei extremamente sensível. É bom ver um filme falando da compulsão por sexo sendo algo destrutivo como qualquer outra compulsão que se perde o controle, e não como algo "putanheiro engraçado", como os filmes insistem em colocar.

    O próprio nome do filme é bem revelador. A vergonha é típica de alguém que não tem controle sobre si próprio, e não pode deixar que os outros percebam. A parte em que ele se masturba e ela o flagra é muito reveladora. Comentei com a minha irmã que é como se tentássemos tirar a bebida de um alcoólatra ou o cigarro de um fumante. Ele foi tirado da privacidade de fazer aquilo que precisa, e como qualquer viciado, agiu de forma violenta e impulsiva.

    Concordo que ele sinta um desejo enorme por ela, mas não sei se ela corresponde nesse sentido. Acho que ela é mais carente de atenção por ser uma pessoa doente (em outro sentido diferente do dele) do que carente por atenção sexual dele.

    Adorei a crítica.

    Beijos

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    1. Oi, Sara! Pois é, acho que é isso mesmo. Preciso assistir ao filme novamente, mas agora concordo que talvez esse desejo não seja recíproco. A Sissy é carente de atenção num nível patológico e me parece que brinca com a vulnerabilidade do irmão para conseguir essa atenção, ainda assim, parece ser mais uma carência afetiva mesmo.

      O título do filme com certeza está ligado a esse descontrole que o personagem tenta maquiar, por exemplo, com a organização. Me lembra de um amigo meu que tem TOC. Crescemos juntos e lembro perfeitamente de como ele era consumido pelos rituais que precisava executar (alguns até na sala de aula) e de como isso era também uma fonte inesgotável de vergonha. Claro que são coisas diferentes, mas o descontrole está presente em ambos os casos.

      Obrigado! :)

      Beijos

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. To meio atrasado, mas a personalidade do personagem do Fassbender me fez lembrar muito da minha, q no caso, não me orgulho nem um pouco e só me sinto confortável para opinar a respeito pelo conforto do anonimato.

    A maneira com a qual ele expôs a angústia e o sofrimento por viver esse martírio é muito tocante para mim, é como se eu não precisasse conhecer a origem dos problemas dele, pq eu já passei por isso e me tornei muito semelhante psicologicamente.

    Sobre a questão do incesto:
    Acredito que exista um desejo arduamente reprimido por ele, mas que não vejo em sua irmã, como já falaram em outro comentário, o comportamento dela está mais relacionado em desejo de carinho, amor fraternal, que são muito difíceis de serem correspondidos corretamente por pessoas que tem esse tipo de problema, como é o meu caso, como é o caso do personagem. Tem tantas questões, tantas camadas. Você se sente um pessoa ruim, você não entende o relacionamento de proteção famíliar quando vc já foi abusado na infância por alguém que faz parte da sua, é muito complexo para sintetizar aqui, na verdade eu venho tentando desenvolver esse assunto em terapia e não tenho conseguido, muito por incompetência e falta de empatia dos profissionais, mas também por minha falta de domínio sobre assunto, por isso eu tenho uma visão bem desesperançosa dá vida, assim como simboliza o final do filme.

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  6. Oi! Não ficou confuso não! Acho que você tem razão sobre a relação dele com a irmã. Acho que da parte dele existe um desejo sexual forte, enquanto que da parte dela é mais uma necessidade de preencher algo com atenção e carinho.

    Aliás, preciso assistir ao filme novamente! Faz anos já! Abraços!

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