domingo, 29 de maio de 2011

Tudo Pode dar Certo (Whatever Works) – Eu estou morrendo!

Devo dizer que nunca gostei muito de Larry David, protagonista do filme. Até assisti alguns episódios da série Curb Your Enthusiasm (Segura a Onda), da HBO, na qual Larry também é protagonista, mas fiquei decepcionado. Já vi muitas pessoas falando bem da série, então seria injusto julgá-la tendo visto apenas três ou quatro episódios. Enfim...

Acontece que uma amiga me recomendou esse filme e como suas recomendações sempre são de bom gosto eu resolvi assistir. O filme é escrito e dirigido por Woody Allen, então isso foi um ponto a mais. Já vi que gostaria logo no seu início, que acontece de forma inusitada: Boris (Larry David) está discutindo com seus amigos, num Café, tentando lhes explicar os motivos pelos quais a humanidade não presta. Então, sem mais nem menos, ele se vira para a câmera, levanta-se da cadeira e começa a falar com o público que o está assistindo. Nós. 

Dentre as coisas que diz, aqui está uma das frases: “E, para que saibam, esse não é daqueles filmes sensação do ano. Então se você é um desses idiotas que precisa se sentir bem, vá fazer uma massagem nos pés”.

Se logo nessa cena supracitada o filme já tinha ganhado minha atenção, na cena seguinte eu já era um fã. Ocorre um corte, pulando para um momento no passado no qual ele está tendo um surto existencialista: “Eu estou morrendo!”. “Devo chamar uma ambulância? – indaga preocupada a sua esposa”, “Não! Agora não! Não essa noite!  Eu quero dizer algum dia”  ele responde.

Frequentemente me pego preocupado com isso. Esses dias estava voltando para casa, no ônibus, quando me dei conta (pela milionésima vez) de que iria morrer um dia. “Eu vou morrer!”. Bate um desespero, mas tento colocar na minha cabeça que vai demorar e aí me dou uma sensação artificial de alívio.

Bóris é um físico frustrado, pessimista nato, megalomaníaco, cheio de manias e que nutre um desprezo especial por todas as outras pessoas, as quais considera micróbios. O desenrolar de tudo começa quando uma jovem ingênua e simples se muda para a casa dele e traz à tona uma série de mudanças na vida de ambos e de outros personagens que vão se apresentando no decorrer do filme. Engraçado, peculiar, inteligente e outros adjetivos do tipo são bastante compatíveis com essa obra de Woody Allen.

Mas a intenção aqui não é narrar passo a passo o que acontece e muito menos fazer uma crítica apurada. É apenas uma recomendação. Se você gosta de bons filmes, com bons diálogos e bom humor (mesmo que negro), assista.


Tudo Pode Dar Certo (Watever Works, 2009).
Direção: Woody Allen
Estados Unidos/França – 92 min.




domingo, 22 de maio de 2011

George R. R. Martin – Guerra dos Tronos e a Morte das virtudes, dos imaculados e dos honrados.

Devo começar dizendo que esse texto é destinado principalmente àqueles que já leram o primeiro livro da série ou que já assistiram a primeira temporada da HBO, para os demais, não leiam do sexto parágrafo em diante.
Dado o aviso, prossigamos.
Bom, como já disse em outro momento, Guerra dos Tronos é minha mais nova paixão literária. Os motivos para isso são diversos; dez deles estão aqui.


Estamos acostumados a seguir a trajetória de dois, três ou quando muito, quatro personagens centrais nas histórias que lemos, mas em Guerra dos Tronos somos logo de começo apresentados a diversas personagens que desempenharão funções de extrema importância durante a trama. De começo isso até chega a incomodar um pouco, pois temos a sensação de que logo logo não saberemos quem é quem, dada a grande quantidade de nomes a serem guardados. Mas quando menos percebemos, já sabemos o nome de todos (ou dos principais, ou seja, uns vinte). Não há protagonista, mas sim protagonistas, no plural.

Outro detalhe interessante é que o título dos capítulos são sempre nomes de personagens; no caso, personagens que aí sim são protagonistas; protagonistas nesses capítulos específicos.
Todos os capítulos do primeiro volume (ainda não li os outros ) possuem os seguintes nomes, que se revezam durante todas as 591 páginas da edição brasileira: Bran, Catelyn, Eddard, Jon, Arya, Sansa (todos esses da Casa Stark), Tyrion (da Casa Lannister) e Daenerys (da Casa Targaryen).
Esses oito nomes que se revezam introduzem uma gama imensa de outros personagens; personagens esses que em boa parte do tempo ficarão em segundo plano. Mas a rainha Cersei, por exemplo, ou o Rei Robert, Viserys Targaryen, Robb Stark, Tywin Lannister, Jamie Lannister, Khal Drogo, entre diversos outros, são todos personagens extremamente importantes e que não possuem um capítulo com o seu nome.

Como vocês devem ter percebido, a família Stark ocupa posição privilegiada na trama. São centrais na história. Poderíamos dizer, de uma forma bastante simplificada, que os Starks são os mocinhos e que os Lannister, os vilões, mas seria algo extremamente superficial... Uma das características mais interessantes do livro é a ausência quase que completa de maniqueísmos.
A cada capítulo que passa, temos percepções diferentes ou mais aprofundadas. Num momento odiamos um personagem e no outro, estamos torcendo por ele; não existem imaculados e ninguém é poupado. Qualquer um pode morrer a qualquer momento, independente do quão importantes, honrados, malvados ou bondosos eles sejam.

Mas não quero me estender muito e muito menos (pelo menos nesse momento) fazer uma resenha de todo o livro. O que quero é falar sobre uma característica específica do autor: a destruição das virtudes das personagens, o assassinato daqueles que não queremos que morram ou daqueles pelos quais nutrimos (ou passamos a nutrir em algum ponto específico da história) pena e dó. Então começarei falando do Bran Stark, filho de Eddard Stark.


*Brandon Stark:
Bran é o segundo descendente masculino de Eddard e Catelyn.
Tem apenas sete anos e sua grande paixão é escalar, subir em árvores, torres e correr pelos telhados de Winterfell (castelo/povoado onde a família Stark reside e reina). Pois bem, o menino é jogado do alto de uma torre rumo ao chão e fica paraplégico. O que ele mais gostava de fazer era correr e escalar, agora... Bom, agora ele passa seus dias olhando melancolicamente as outras crianças brincarem e lutarem/treinarem (antes ele pretendia se tornar um cavaleiro).



*Viserys Targaryen:
Viserys é o irmão mais velho de Daenerys. Ele e sua irmã são os últimos descendentes do Príncipe Rhaegar (herdeiro do Trono de Ferro), morto por Robert. Este último depois se sentou no Trono de Ferro e se tornou o Rei dos Sete Reinos. Viserys nutre a esperança de reunir um exército e matar Robert, tornando-se assim o Senhor dos Setes Reinos. Para tal, ele casa sua irmã com Khal Drogo; em troca ele ganharia um exército de dez mil homens.
Mas a cultura de Khal Drogo é diferente e não encara os compromissos da mesma forma que as demais. Drogo entende aquilo (o casamento com a irmã de Vaserys) como um presente, e os dez mil homens será apenas um presente que ele dará como retorno, porém, quando ele julgar conveniente.
Ocorre que Vaserys é extremamente impaciente e num surto de “quem manda sou eu, me dê os meus dez mil homens, me dê a minha coroa”, Drogo tira o seu cinto de ouro, derrete e derrama na cabeça de Viserys. Ele, obviamente, morre. É uma morte que dá muita dó, pois embora ele seja um pé no saco, tudo o que ele queria era vingar a morte de toda a sua família e ascender como rei.



*Lady, a loba da Sansa:
Pois é, nem os animais escapam da maldade de Martin.
O lobo da Arya ataca Joffrey Lannister para proteger a menina.
Acontece que Joffrey é um príncipe, filho da Rainha Cersei. Ela, muito fula da vida, exige que o lobo seja sacrificado, mas ele está desaparecido.
Quem se ferra então é o lobo da Sansa, que é decapitado.


*Mycah – Amigo da Arya:
Esse personagem tem uma passagem rápida. É um menino, amigo da Arya.
Os dois estão treinando luta, com espadas de madeira, quando
Joffrey aparece e desafia o menino; ele permanece imóvel, mesmo com o outro lhe batendo e humilhando. Arya salta sobre ele, para ajudar Mycah; Nymeria (a loba da Arya) salta sobre Joffrey, mordendo seu braço. O menino Mycah corre, desesperado, sabendo que como mero filho de açougueiro que é, não tem muitas esperanças de permanecer incólume.
Cão de Caça, “guarda” de Joffrey, vai atrás do menino e o parte ao meio com um golpe de espada.


*Robert Baratheon – O Rei:
Morre da forma mais estúpida e no momento mais inoportuno.
Eddard Stark descobre que a Rainha trai o rei com o seu próprio irmão, numa relação incestuosa, e que os filhos de Robert na verdade não são de Robert...
Acontece que o Rei saiu para caçar (não é inverossímil, pois essa era uma atividade muito comum entre os reis da nossa história; veja o Henrique VIII por exemplo) e ele não tem como contatá-lo de imediato. Quando Robert volta, está nas últimas. Tentou, bêbado, matar um javali e, embora tenha conseguido, o javali não deixou por isso mesmo.
Robert morre sem saber que todos os seus filhos na verdade são filhos de Jaime com a Rainha.


*Eddard Stark:
Essa foi a morte mais revoltante do livro. Ned, como é alcunhado, é aquele tipo de personagem que você cria um vínculo e fica torcendo por ele em todos os momentos.
Quando descobriu que Robert não possuía herdeiros, pois o pai dos filhos de Cersei na verdade é Jaime, ele a avisou de que contaria ao Rei e que ela devia fugir se não quisesse que seus filhos fossem mortos durante a fúria de Robert.
Mas Robert morre, Joffrey, filho de Cersei, torna-se rei. Quando Ned tentou tirar o moleque do Trono, foi traído pelo conselho do rei e encarcerado.
Para evitar que as filhas Arya e Sansa fossem mortas, aceitou declarar em público ser um traidor. Logo após a declaração, em praça pública, foi decapitado diante de todos.


*Khal Drogo:
Drogo é o marido de Daenerys e o líder de um exército de guerreiros Dothraki.
O povo e os guerreiros Dothraki vêem o cavalo tal qual os hindus vêem a vaca, ou quase. E para o homem Dothraki não existe nada que denote mais a sua masculinidade e poder como o fato de montar um cavalo. “Um homem que não monta um cavalo não é um homem” de acordo com essa cultura ficcional.
Nem preciso dizer o que aconteceu, né? Sim, Drogo cai do cavalo, literalmente, perdendo assim o respeito dos seus guerreiros.



Bom, basicamente é isso. Martin, o autor da saga, explora bastante essa relação de poder e perda, de virtudes ou habilidades e destruição das mesmas.
Ned, o honrado, o honesto, como foi citado, foi colocado num contexto em que teve de abdicar de sua própria honra pelo bem de suas filhas. Claro que os demais (o povo) não sabiam disso.
O forte cai de joelhos, o puro, não por muito tempo, o inalcançável, perde a cabeça.



Robb Stark
Sansa Stark
Arya Stark

Tywin Lannister

Cersei Lannister

Jaime Lannister


Joffrey Lannister
*Todas as imagens foram retiradas do site gameofthronesbr. No entanto, em todas as imagens há a assinatura do autor. 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os 13 Porquês – O que uma morta tem a dizer (Análise)


Os 13 Porquês - Jay Asher

Não sou nenhum adepto de leituras que possuem adolescentes (juvenis em geral) como público alvo, mas dadas as entusiasmadas recomendações de um amigo, resolvi ler. Achei o livro comovente, envolvente e extremamente pertinente.

A história começa com um garoto - Clay Jensen  - encontrando uma caixa, na porta de sua casa, endereçada a ele; ao abri-la, depara-se com fitas cassetes. Nessas fitas, Hannah Baker, uma ex-colega de classe, falecida há poucos dias, discorre sobre os motivos que a levaram a suicidar-se. Ele, Clay, é um desses motivos e precisa ouvir fita por fita para saber de que forma influenciou nesse desfecho trágico.

Jay Asher desenvolve tudo de forma bastante simples, sempre se atendo e explorando de forma eficiente as personagens centrais e as que compõem toda a bola de neve que culminará no suicídio de Hannah. Descrições detalhadas das características físicas das personagens e cenários são deixadas de lado. Nesse caso, isso é um ponto positivo, pois faz com que a fluidez seja mantida e que em momento algum o leitor se sinta fatigado ou entediado.

Os protagonistas são Clay e Hannah, um deles está morto, e à medida que vamos nos aprofundando nos acontecimentos, começamos a desejar que alguma explicação mirabolante traga a menina de volta. Em suma, queremos um final feliz para a garota.

Empatia, pena, tristeza e inconformidade serão reações comuns àqueles que lerem o livro, com exceção, é claro, dos desprovidos de sentimentos. Já envolvidos na teia de relações, sentimentos e expectativas, uma coisa nos é recorrente: “Isso não precisava ter acontecido”.

Só ao fim entendemos a mensagem de Asher. E ela é clara.


Thirteen Reasons Why